Em minha primeira resenha aqui no Cantinho Geek resolvi trazer literatura nacional de primeiríssima qualidade, escrita por um autora já consagrada e minha conterrânea aqui do sul do país: Um Farol no Pampa da Letícia Wierzchowsk, lançado em 2004 pela editora Record
O livro é a continuação de A Casa das Sete Mulheres, uma história que inclusive ganhou uma minissérie da Globo em 2003. Eu li o primeiro livro há uns 2 anos e não sabia que ele tinha continuação até recentemente, quando fiquei sabendo fui atrás pra ler e descobri o que acontecia com as mulheres da família de Bento Gonçalves após a Revolução Farroupilha.
E Um Farol no Pampa, conta justamente sobre as décadas que se seguiram após a revolução até pouco depois à Guerra do Paraguai. O livro já inicia com a morte do famoso líder Bento Gonçalves e segue contando a história da família, de Dona Antônia, Mariana, Caetana, Manuela e outras.
Entretanto, o protagonista é um homem: Matias, filho de Mariana e criado por Antônia. Desde a infância ele apaixona-se por sua prima: Inácia. Os dois crescem juntos e já na adolescência ficam noivos, prometendo que se casarão no futuro.
Porém, a Guerra no Paraguai começa e Matias, mesmo não sendo um homem de "peleias" decide participar e lutar ao lado do exército brasileiro. Após alguns combates e muitos dias na chuva e no frio, ele é ferido e passa um tempo entre a vida e a morte, sem conseguir nem ao menos comunicar-se por cartas com sua amada. Depois de tanto tempo de silêncio, tentando encontrá-lo sem conseguir, Inácia é levada a crer que Matias morreu e após viver o luto, aceita que precisa seguir sua vida e casa-se com outro rapaz que não foi para a guerra e já lhe cortejava há algum tempo
Ao retornar ao Rio Grande do Sul, ainda ferido e febril, Matias é informado sobre o casamento de sua antiga noiva e após recuperar-se e ter uma última conversa com ela, decide ir embora do sul do país e tentar sua vida em outro lugar. No Rio de Janeiro ele conhece uma moça rica que apaixona-se por ele, casa e tem um filho com ela, apesar de jamais esquecer a paixão de infância.
Os primeiros capítulos do livro se iniciam justamente após a morte de Matias, quando seu filho é informado que herdou as estâncias do pai no Rio Grande do Sul e decide retornar à terra dos seus ancestrais e descobrir mais sobre seu passado. A partir de então, Letícia intercala capítulos sobre diferentes perspectivas e em diferentes épocas, contando a vida das setes mulheres do livro anterior, a infância de Matias, os horrores que viveu na guerra e a disposição de seu filho em buscar saber mais sobre o passado.
Preciso destacar que Manuela é a única personagem que permanece do início ao fim, vivendo confinada em sua casa, sozinha e aguardando o regresso de seu antigo namorado: Giuseppe Garibaldi. Mesmo após a velhice, ela prossegue usando seu vestido de noiva todos os dias ao entardecer e esperando pelo retorno dele, que nunca ocorre. De seu casarão ela é vista somente nas janelas, onde as crianças zombam e a chamam de louca. Entretanto, ela mantem-se consciente, torna-se amiga e confidente de seu sobrinho Matias e posteriormente reencontra o filho dele e explica sobre o passado do pai.
A autora mostra nessa obra um vasto entendimento sobre a psique humana, construindo personagens reais e verdadeiros, que possuem medos e sonhos próprios, se contradizem e sofrem. É como se pudéssemos entrar no mais profundo consciente de cada personagem e amá-los e ao mesmo tempo odiá-los, entendo suas motivações. Letícia também tem domínio sobre a cultura e o modo de ser do gaúcho, abordando com sutiliza o modo próprio de vida deste.
Lendo Um Farol no Pampa, também é possível aprender e conhecer mais sobre a Guerra do Paraguai, entender suas dificuldades, como ela começou, a participação do Uruguai e da Argentina, entre outras coisas.
Assim como em O Tempo e o Vento do Érico Veríssimo, somos apresentados a uma ficção histórica que nos faz rememorar e reviver o passado como se estivéssemos presentes nos principais acontecimento do Brasil e amar e conhecer a força das mulheres gaúchas, que sempre foram únicas e sobreviveram ao horror de diversas guerras, mesmo perdendo nelas pais, maridos e filhos. O bônus que a Letícia nos traz nessa história é a introdução, pouco a pouco, de elementos do realismo mágico que será recorrente em outras obras da autora.
Avaliação:
5/5
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Edição de Bolso (foi a que eu li)
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